Trabalho como psicoterapeuta e tenho por base teórica a psicanálise. Tenho interesse, principalmente, nas teorias de Freud, Winnicott e Lacan. Comecei a atender clinicamente durante o meu estágio na graduação. Desde então tenho seguido interessado e trabalhando em duas áreas, na clínica e na pesquisa acadêmica. Até o momento a relação entre os dois são mais que conciliatórias: o estudo modifica minha prática e a prática me indica questões que atiçam minhas pesquisas.
Cartas a um jovem terapeuta, livro de Contardo Calligaris
Que livro você indicaria a alguém que queira começar – ou já esteja iniciando – a aprender sobre psicologia e psicanálise? A minha escolha é Cartas a um jovem terapeuta, de Contardo Calligaris
Cartas foi escrito em 2004, publicado em 2008, sucesso imediato e em 2019 ganhou nova edição revista e ampliada.
E não por acaso. O livro é extremamente versátil. Lembro de cada momento pelo qual estava passando nas três vezes em que o li. Na primeira, estava em dúvida sobre qual nova graduação fazer. A psicologia aparecia como uma opção interessante, mas ainda me era muito distante, pouco palpável. Me indicaram o livro e deu certo: meu interesse por ele foi um dos fatores que guiou minha escolha.
Nos idos do meio do curso, quando a gente já não consegue lembrar do começo, nem vislumbrar ainda o fim, li novamente. Mais uma vez o livro teve efeito. Entendi coisas novas que tinham passado despercebidas e me identifiquei com os perrengues da formação. Dá trabalho!
A terceira foi quando tinha acabado de me formar. Novos perrengues: como acreditar e apostar na clínica? Novamente, tirei muito proveito do livro.
Esse é um de seus grandes méritos, justificando o subtítulo: “Reflexões para psicoterapeutas, aspirantes e curiosos”. Por ter linguagem acessível e conseguir sintetizar questões relevantes, Cartas é uma leitura que aceita diferentes níveis: pode ser lido em momentos distintos e compreendido em níveis de profundidade. Ainda hoje, com anos de formado e de atuação clínica, me pego lembrando de alguma passagem ou exemplo.
Talvez, o mérito seja o de colocar em palavras o óbvio, não o simples, mas o inescapável da clínica e da psicanálise. Ele toca em temas que por vezes nos parecem mundanos demais: como saber se tenho vocação, o que é uma psicoterapia, quanto custa, como fazer para ter os primeiros pacientes. Mexe com a gente ao falar sobre a personalidade do psicoterapeuta e é irredutível ao afirmar o respeito à diversidade da vida humana.